terça-feira, 13 de abril de 2010

INQUIETAÇÃO

Louca inquietação, estranha ansiedade


Apressa-se o relógio, arrebata-se os minutos

Desprende-se os segundos eclipsam-se as horas

Esvazia-se os dias desnorteiam-se os meses

Usurpa-se os anos exturquem-me o tempo

Paira o grito enclausurado no silêncio frívolo

Do tempo estático no relógio acelerado

Saqueiam-se os segundos aos minutos tresmalhados

Em demanda das horas nos dias desaparecidas

E os dias nos meses e os meses nos anos e os anos nos séculos

Tempo intemporal que não te deténs e me apressas na tua ânsia

sexta-feira, 26 de março de 2010

QUERO-TE

 

Sem ti sinto-me vazia, oca de sentimentos

Sem ti não encontro razão para sorrir

Dilacera-me a alma saber-te

Longe de mim



A casa é uma árvore oca, carcomida

Pelo silêncio das tuas palavras

Pelo eco do meu apelo

Para te sentir aqui



Quero-te de volta, inteiro

Apenas só meu

Não desisto

De ti


segunda-feira, 22 de março de 2010

ÁGUA


Água pura e cristalina, por aquela encosta corria


Nos meus tempos de menina, tão bem que ela sabia

Bebe-la de mãos em concha, ninguém era indiferente

À água pura e cristalina que brotava da nascente





Mas o Homem egoísta só pensando em construção

Rompeu a serra com estradas para rápida locomoção

A nascente mantém-se lá num cantinho esquecida

Mas a água já não presta, sabe a terra ferida





Nem as árvores resistiram a tamanha devassidão

Pelo descuido do homem ou falta de formação

Nas bermas da dita estrada que mais parece lixeira

Transformou-se o harmonioso em disforme tal a cegueira





Não entendo a humanidade que só pensa em destruição

Vamos mudar de atitude e pensar em preservação

Para que a água da nascente do meu tempo de menina

Chegue a gerações futuras ainda pura e cristalina

sexta-feira, 5 de março de 2010

Rosa caida


Vagueando olhei a rosa caída

Não estava caída no meu jardim

Nem na calçada da minha rua

Nem num jardim qualquer

Nem numa rua de qualquer cidade

Não havia nenhuma rosa caída ainda

A rosa apenas definha, perdendo pétalas

Antes perfumada de vivacidade

Desabrochando todas as manhãs

Abrindo um sorriso para a vida

Dolorosa tem sido a separação das pétalas

Sobre o olhar debilitado do roseiral

Mais uma pétala cairá e depois outra

Até as mais resistentes sucumbirão

E sentirão os mesmos tremores, o aperto no peito

A sensação da partida de um ente querido

A mesma impotência das outras pétalas

Envolvo cada pétala numa lágrima e num sorriso

segunda-feira, 1 de março de 2010

O Beijo


Quando um beijo tu me der,

Não será só um beijo,

Mas sim, o querer se entregar.

Quando um beijo tu me der,

Não será apenas um beijo,

Mas sim, a confissão do teu amor.

Quando um beijo tu me der,

Nossos corpos se entrelaçarão

E nossas almas andarão juntas.

Quando um beijo tu me der,

Se é que darás tu,

Eu aceito casar com você.

Fita-me, com o teu olhar,

Aproxima-me, com o teu desejo,

Entrega-se, pois queres amar,

E cala-me, com o teu beijo.

Poema cedido pelo meu amigo Clayton Tomaz
Do livro: "Um Poeta em Conflito" - Clayton Tomaz da Luz

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

AMAR O MAR

Do lugar onde me encontro vejo os barcos a ti se dar

Espartilha-me o peito de tristeza por não te poder abraçar

Fico inerte aqui de longe tão triste está o meu olhar

Sonhando estender os braços e um dia te enlaçar



Talvez um dia alongues os braços para me levar

Apago-me de tristeza por em teu regaço não navegar

Mas eu sei que não pertencemos ao mesmo lugar

Como posso a ti me dar se eu sou terra e tu és mar



Sou uma rocha perdida no cimo desta colina

Abro os braços na esperança de te alcançar

Mas a distância que nos separa é a nossa sina

Não te posso desejar pois eu sou terra tu és mar



Talvez em sonho possa sempre a distância quebrar

Fantasiar em ser um dia uma rocha do mar

E abraçada ao teu corpo finalmente repousar

Mas apenas em sonho pois eu sou terra e tu és mar




segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Silêncios distantes



O silêncio da noite fria

Contrasta com o ruído da chuva

Que bate persistente na janela

O aconchego da lareira acesa

Contraria o vento gélido que se ouve



Ouve-se, no lado oposto da chuva

Um suspiro quebrando o silêncio

Uma respiração acelerada mesmo que distante

Aquecida e impulsionada pelos lábios teus.



Acordo com aroma a terra molhada

O mar tenta descansar agora

O sol já espreita no horizonte

Oferecendo alegria ao dia



O beijo que ontem te desejou boa noite

É o mesmo que hoje te deseja bom dia,

É o mesmo que nesta noite fria

Aquece a alma e o amor de dois poetas.

(mais um dueto de Bel e Clayton)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

QUASE




Um pouco mais de sol – eu era brasa,

Um pouco mais de azul – eu era além.

Para atingir, faltou-me um golpe d’asa...

Se ao menos eu permanecesse aquém...



Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído

Num baixo mar enganador d’espuma;

E o grande sonho despertado em bruma,

O grande sonho – ó dor! – quase vivido...



Quase o amor, quase o triunfo e a chama,

Quase o princípio e o fim – quase a expansão...

Mas na minh’alma tudo se derrama...

Entanto nada foi só ilusão!



De tudo houve um começo... e tudo errou...

– Ai a dor de ser-quase, dor sem fim... –

Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,

Asa que se elançou mas não voou...



Momentos d’alma que desbaratei...

Templos aonde nunca pus um altar...

Rios que perdi sem os levar ao mar...

Ânsias que foram mas que não fixei...



Se me vagueio, encontro só indícios...

Ogivas para o sol – vejo-as cerradas;

E mãos d’herói, sem fé, acobardadas,

Puseram grades sobre os precipícios...



Num ímpeto difuso de quebranto,

Tudo encetei e nada possuí...

Hoje, de mim, só resta o desencanto

Das coisas que beijei mas não vivi...



......................................................................

......................................................................



Um pouco mais de sol – e fora brasa,

Um pouco mais de azul – e fora além.

Para atingir, faltou-me um golpe d’asa...

Se ao menos eu permanecesse aquém...



Mário de Sá Carneiro

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Amor


Quem és tu criatura

Que impele a essência do meu viver

Na metamorfose do que fui outrora

Agora ofuscada num sofrer



Solto desvairadamente

O grito da garganta dormente

Na busca de um desígnio

Que minha dor acalente



Quem és tu criatura

Que me arrasta neste viver

Uma mão cheia de nada

Outra gasta de sofrer



Grito desvairadamente

Sem saber o que fazer

Numa busca sem sentido

De outra forma de viver



Antes davas-me carinho

Hoje razões para sofrer

Quem és tu criatura

Que teimas em me prender

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O CONCLAVE PELA VIDA



O conclave pela vida!(dueto AnaBela Vieira e Clayton tomaz)


Em forma de gritos escritos no papel,
O azul do céu reflectido no mar que
Salga o meu corpo e me impede de voar.

O retorno para casa
Numa viagem só de ida,
Rotinas de uma vida onde há a procura incessante
Pelo descobrimento do meu ser...


Migalha insignificante do universo
Carregando uma existência pesada
Engolida num frenesim eterno
Buscando a saída do nada.

Quem me aprisiona a alma
Fechada num recanto qualquer
Não me permitirei descansar
Pelo descobrimento do meu ser…


Demando nos raios ofuscantes do sol
Os contornos na essência da minha raiz
Onde defronto o glorioso equilíbrio
Plano fundamental para ser feliz.

Neste contentar de contente
Pungi o sorriso provisório que se torna permanente,
A lágrima quente que transcorre o meu rosto
São apenas emoções do poeta...



Um desafio do meu amigo Clayton tomaz
para quem deixo um beijo

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

RUA DA MINHA CIDADE




A rua despida de gente

Privada de vida, escura, sombria



O gemido do vento acariciando

Os membros despidos das árvores



Os manequins das montras jazem

Inertes pelo silêncio das lojas



A calçada desalinhada dialoga

Com as solas gastas da vida



A chuva cai persistente na

Rua despida deserta de gente



O cão vadio uiva a sua sorte

Faminto, molhado, cansado



A lua silenciosa e indiferente

É cúmplice da chuva persistente



E com os primeiros raios de sol

A rua despida se enche de gente



A árvore aquece o corpo molhado

A calçada geme trilhada pelo calçado



O cão faminto encontra comida

O jornal no chão mata a fadiga



As lojistas brindam com vida e cor

Os manequins Inertes das montras



As vendedeiras gritam o pregão

A castanha assada esquenta na mão



Põe-se o sol emudece a rua

Priva-se de vida, despe-se de gente