quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

AMAR O MAR

Do lugar onde me encontro vejo os barcos a ti se dar

Espartilha-me o peito de tristeza por não te poder abraçar

Fico inerte aqui de longe tão triste está o meu olhar

Sonhando estender os braços e um dia te enlaçar



Talvez um dia alongues os braços para me levar

Apago-me de tristeza por em teu regaço não navegar

Mas eu sei que não pertencemos ao mesmo lugar

Como posso a ti me dar se eu sou terra e tu és mar



Sou uma rocha perdida no cimo desta colina

Abro os braços na esperança de te alcançar

Mas a distância que nos separa é a nossa sina

Não te posso desejar pois eu sou terra tu és mar



Talvez em sonho possa sempre a distância quebrar

Fantasiar em ser um dia uma rocha do mar

E abraçada ao teu corpo finalmente repousar

Mas apenas em sonho pois eu sou terra e tu és mar




segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Silêncios distantes



O silêncio da noite fria

Contrasta com o ruído da chuva

Que bate persistente na janela

O aconchego da lareira acesa

Contraria o vento gélido que se ouve



Ouve-se, no lado oposto da chuva

Um suspiro quebrando o silêncio

Uma respiração acelerada mesmo que distante

Aquecida e impulsionada pelos lábios teus.



Acordo com aroma a terra molhada

O mar tenta descansar agora

O sol já espreita no horizonte

Oferecendo alegria ao dia



O beijo que ontem te desejou boa noite

É o mesmo que hoje te deseja bom dia,

É o mesmo que nesta noite fria

Aquece a alma e o amor de dois poetas.

(mais um dueto de Bel e Clayton)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

QUASE




Um pouco mais de sol – eu era brasa,

Um pouco mais de azul – eu era além.

Para atingir, faltou-me um golpe d’asa...

Se ao menos eu permanecesse aquém...



Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído

Num baixo mar enganador d’espuma;

E o grande sonho despertado em bruma,

O grande sonho – ó dor! – quase vivido...



Quase o amor, quase o triunfo e a chama,

Quase o princípio e o fim – quase a expansão...

Mas na minh’alma tudo se derrama...

Entanto nada foi só ilusão!



De tudo houve um começo... e tudo errou...

– Ai a dor de ser-quase, dor sem fim... –

Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,

Asa que se elançou mas não voou...



Momentos d’alma que desbaratei...

Templos aonde nunca pus um altar...

Rios que perdi sem os levar ao mar...

Ânsias que foram mas que não fixei...



Se me vagueio, encontro só indícios...

Ogivas para o sol – vejo-as cerradas;

E mãos d’herói, sem fé, acobardadas,

Puseram grades sobre os precipícios...



Num ímpeto difuso de quebranto,

Tudo encetei e nada possuí...

Hoje, de mim, só resta o desencanto

Das coisas que beijei mas não vivi...



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......................................................................



Um pouco mais de sol – e fora brasa,

Um pouco mais de azul – e fora além.

Para atingir, faltou-me um golpe d’asa...

Se ao menos eu permanecesse aquém...



Mário de Sá Carneiro

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Amor


Quem és tu criatura

Que impele a essência do meu viver

Na metamorfose do que fui outrora

Agora ofuscada num sofrer



Solto desvairadamente

O grito da garganta dormente

Na busca de um desígnio

Que minha dor acalente



Quem és tu criatura

Que me arrasta neste viver

Uma mão cheia de nada

Outra gasta de sofrer



Grito desvairadamente

Sem saber o que fazer

Numa busca sem sentido

De outra forma de viver



Antes davas-me carinho

Hoje razões para sofrer

Quem és tu criatura

Que teimas em me prender